domingo, 23 de fevereiro de 2014

a minha mão tá cheirando à acetona,
do esmalte que eu tirei...

não que isso valia um poema,
mas o quê valeria um a essa altura?

isso não é uma carta de amor,
embora eu até te ame,
não. isso não seria uma carta amor.

o que me valeria a escrever sobre qualquer coisa?

a angústia me ataca o peito,
e o tédio me sobe pela garganta...

me escorre pelos dedos cheirando à acetona.

melhor seria tomar um café,
e a vida de um só gole...

eu poderia me enterrar em mim mesma,

cavar
e
cavar...

cravar meu peito em verso
ou
nada.

serei PATETA
ou nada...

sim,
muito melhor do que ser poeta,
ou qualquer coisa do tipo...

mesquinho e egoísta assim.

faz tempo que eu não choro,
nem gargalho.

é um oco do tamanho de mim.

já fui menos fútil,
e mais coerente.

não que isso faça qualquer diferença, realmente.

tudo que há,
é o vão
que  me fica
entre um dia e outro dia.

poderia me jogar
abismo
a
dentro do peito.

nada disso me faria diferença.

as cinzas nos cinzeiros
a imagem no espelho,
os versos
ou prosa rala que me tornei...

tudo é abismo. 

me atiro
precipício a dentro
de mim.

faz tempo que eu não choro,
nem gargalho.

somos abismos lindos.

(mesmo com a vida cheirando a acetona). 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Das páginas rasuradas

- 14 de fevereiro
Podemos caminhar de mãos dadas no parque, planejar viagens de balão, ou dançar loucamente, e de meia, no meio da sala de estar. Nada disso nos redime dessa vida. O que haveria pra redimir afinal? Um dia depois do outro, pode ser muito tempo a esperar. E muito tempo não é nada. Tempo não é nada. Somos espaços a preencher, hora de azul, roxo, preto, amor e amarelo. Somos. O que somos? Pouco importa. Existe, meu amor, psicologias e filosofias de mais a tentar entender e explicar, o homem, o amor, eu e você, nada que te tire as interrogações do alto da sua cabeça, ou da minha. Nada nos explica...
Quantos passos eu posso dar até chegar perto dos seus? Quanto o seu coração pode bater? Os pés perto, o inverno e a saudade... Nada nos explica. Nos cabe, ou nos basta. Podemos caminhar de mãos dadas no parque, planejar viagens de balão, ou dançar loucamente, e de meia, no meio da sala de estar?
Nada que nos baste. Tudo o que nos escape. Podemos, tão somente, amor?

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

à transbordar

meu peito bate fora do
ritmo,
abro e fecho os olhos,
perdida.
me descompasso.

me sobra medo
e a falta de jeito
a me escorrer
da boca
até as pernas que tremem.

sorvo os dias,

me gira o tempo,
e abafa a fala.

estraçalho a lógica
os ponteiros
e o relógio.

esquece do tempo,
os livros
e qualquer razão.

descobre o peito
e adormece,

me acorda o verso.

te faço colo o coração.
e adormeço.

teu peito é oceano
a percorrer.