quarta-feira, 28 de novembro de 2012

o café na caneca esquecida no canto,
esfriou,

e eu que me esqueci no canto,
esfrie.

o cigarro que me aquece os lábios,
me apaga 
dor
e peito.

e as letras e s c
                    o
                   r
                      r
                    e
                         m   e    c o r re m  de um canto a outro do corpo
                                                         no vão do
                                                                      meu peito ao
                                                                                        chão.

ao chão de mim  
ficam 
os versos,
e as cinzas de cigarros e dias mal tragados...

ao chão de mim,
fica a cinza da cinza,

hora em hora...

o café frio,
e caneca esquecida...

e eu ao lado da caneca, esquecida no canto,
ao chão 

de mim.

ardendo
só,
nos goles frios de café,  nos vãos do peito, ao chão da vida...

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

das páginas rasuradas

#2

a tarde vazia,

e esse sol que me entra insosso pelas janelas entreabertas,

ora aquece, ora aborrece.

e o peito entreaberto,
que ora aquece, 
quase sempre só me aborrece, insosso...

não há abraço que eu queira apertar.

não há janela que eu precise abrir em mim.

está tudo escancarado e queimado de sol...

e eu pálida de vida, queimada de versos.

me acostumei a isso.

me acostumei a muita coisa que não deveria,

a casa vazia,
aos pratos sujos na pia,
a caneca de café sozinha na mesa,
ao cheiro do cigarro na ponta dos dedos...

e tantas outras coisas idiotas assim.

solto calmamente  a fumaça do cigarro sozinha no banheiro,
e de porta aberta.

me acostumei a isso também...

mas sabe, gosto mais de solidão do que  de abraços, café ou de  batata frita, tem dias...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

das páginas rasuradas

#1

não espero te encontrar nas cenas dos filmes,
ou em qualquer página de livro, 
qualquer música,
qualquer esquina... não espero te encontrar.

apenas não espero te encontrar.

a vida é um desencontro muito maior que eu e você.

e eu espero apenas os desencontros,
e os tropeções pela calçada.

o barulho dos carros cortando a chuva,
meus pés cortando a água e os próprios passos...

meus pés cortando e cortando,

o caminho que hei de seguir, é um desencontro de chão e tempo.

é sempre um desencontro...

e não espero me encontrar nas cenas dos filmes,
nas paginas dos livros,
nos versos ou nas esquinas... não espero me encontrar.

espero apenas um eterno desencontro,
entre o que fiz de mim,
e o que nunca farei.

o que fiz de mim, é isso.
é o agora, e é também o antes e o depois.

e o que eu nunca farei,
desfazendo estou 
nesse agora,
nesse depois e naquele antes e adiante,

... adiante no encontro do acaso e do tempo.

falta ou sobra tanto tempo pra encontrar em nós...

a vida é pouco mais que isso:
um desencontro numa folha rasurada.

que se rasguem.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

a tristeza é uma filha da puta...

que me faz levantar da cama no meio da noite,
e ascender todas as luzes da casa,
pra livrar o medo dela, do escuro que enche esses cômodos vazios.

a tristeza é uma filha da puta,
que me faz fumar muito  mais do que eu deveria,

e viver muito menos do que gostaria.

a tristeza é uma filha da puta,
me sussurrando palavrões e rindo da minha cara, 

quando eu não consigo dormir ou falar nada além dessa poesia rala e estupida...

é uma filha da da puta,
me esvaziando a alma e o choro,

é uma filha da puta, apenas uma filha da puta... sorria pra ela.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

eu falava sobre a vida cotidiana,
tudo condessando em uma só frase, é claro.

e claro, que você não entendeu.

ninguém nunca entende coisa nenhuma do que eu digo,
e tudo bem...

semana após semana,
os dias infartando,
em por do sol depois de por do sol.

essa vida é inteira uma fotografia,
desfocada em sépia.

nosso peito é inteiro uma fotografia desfocada em sépia.

não poderia ser mais bonito ou feio que isso.

e andar sem rumo na chuva em dias cinza,
parece que deixa tudo menos sépia.

mas de repente só parece mesmo... 

domingo, 11 de novembro de 2012

vinte e poucas linhas...

ainda que dormisse um milhão de horas,
me acordaria exausta de mim.

os ponteiros do relógio girando, 

a casa por limpar, 
os livros por arrumar,

ladainha e ladainhar por empilhar e catalogar, 


nada disso é urgente,

ou real o bastante.

o peito pulsando e pulsando,

sim,
é tão mais urgente e real.

pulsando e pulsando, e apenas pulsando.


que me exploda na cara,

tempo e poesia.

que me exploda...


no oco do meu peito,
no amarelo dos meus dentes,

e no que mais me esvazia e me amarela
o dia 
e a poesia...

que se exploda a poesia.


o café e o cigarro que me hão de matar,

são tão mais reais e  urgentes que estes versos ralos...

o café e o cigarro, são tão mais urgentes e reais, que eu mesma às vezes.

tão mais urgentes...


e que explodam também...

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

há um cachorro aqui que não pára de latir,
no latido dele cabe mais intensidade do que nos versos e palavras de muita gente...

me pergunto se ele sabe algo da própria paixão. 

não o cachorro, mas "ele". aquele "ele" pra quem  escrevo de noite. bobagem...  bem sei que não escrevo pra ninguém além de mim, ele também não escreve pra ninguém além dele mesmo. no fundo é sempre isso.

escrever é pra ser solitário mesmo.

há uma ninhada de gatos aqui, miando e miando o principio de suas vidas,
e também eles são poços solitários de paixão.

me pergunto se ele sabe da minha da paixão. 

não sabe, nem eu sei dela realmente.

minha paixão é silencio que arde, fere, cura, serena, grita  e emudece.

minha paixão é como  um silencio sim.

e quieta está,
e estou.

e tanto o cachorro quanto os gatos, hão de passar pela vida  latindo e miando muito mais do que eu poderia.

e hão de trepar com a vida também.

sim trepar com vida,.

á  maioria de nós cabe fazer apenas isto: trepar com vida.

ele não trepa com a vida, faz amor com ela.
mas ela não retribui,
a vida quase nunca retribui... e tanto faz.

mas doí.

bem sei que doí.

amor assim deve doer.

é pra isso que é feito,
pra doer e doer,
e só depois se poder gozar o minimo de afeto dela.

se é que se goza... mas isso tudo é tolice também.

tem mesmo um cachorro latindo aqui sem parar...

e dai?

ele é um poço de paixão... somos um poço de paixão.

e cairemos bem no fundo disso,
quietos e sozinhos, 

afogados.

domingo, 4 de novembro de 2012

o cheiro do sabonete,
e meia dúzia de estrelas desenhado solidão e céu,

o que me reserva essa e qualquer noite?

me escondo e acho,
vida adentro, vida a fora.

somos resto de poeira cósmica,
chamas sobre chamas,

queimando em alma e peito,
vida
e carne.

mas pro inferno com tudo isso.

cato um sorriso,
de canto,
no meu canto.

cato estrela,
verso
e hora

que já hora, já é hora.

e hora de quê?
hora pra quê?

hora pra quem tem.
e ninguém.

senhores do próprio tempo,
escravos de ponteiros,
e relógios,

servem pra quê?
servem pra quem?

pro inferno com tudo isso também.


saudade das nossas conversas cumpridas 
sem fim nem hora.

cumpridas, cumpridas...

somos o resto,
de qualquer poeira,

a causa,
e a casualidade,

o inicio,
principiando em meio
é fim.

é sim,
é sim.


é
pó.

céu e estrela e nada.

e pro céu com tudo isso também.

pro céu, pro céu...

que só me interessa mesmo é o cheiro do sabonete,
qualquer noite cheia,
solidão,
me 
estrela.

e estrela.