domingo, 16 de novembro de 2014

reticências

sinto angústia em mim
e de mim.

os cigarros tragados,
o despertador,
os dedos a me percorrer sozinhos o branco dos lençóis.

só têm me ficado os versos que não consigo terminar.

só têm me salvado os versos a terminar.

um sorriso bobo às três e pouco da tarde 
em um terminal qualquer...

a garoa fina 
e o ônibus descendo a serra,

calmaria
e
tempestade. 

os dedos,
mãos,
pés,

lábios
e narizes,

tudo é tempo a me percorrer,
do despertador ao peito,

do branco dos lençóis
ao cigarro

o beijo
e a lembrança do beijo... 

só têm me ficado os versos e as reticências. 

não; só tem me salvado, amor... tuas reticências.

sábado, 1 de novembro de 2014

do que não se explica

nessa minha gramatica ruim,
não me resta muito o que escrever,

e isso não é tão ruim assim.

faz tempo que não me preocupo
com calendários
ou
relógios. 

fins,
ou
começos,

pontos
ou
vírgulas.

tenho vontade de te tirar pra dançar,
em uma noite
qualquer de dezembro ou janeiro,

te percorrer o corpo
dos pés a cabeça...

quem sabe em uma noite dessas 
a gente não atravesse o peito,

como quem espera saltar 
de uma ponta 
a outra 
de um abismo.

não tem, meu bem,
remédio que te cure dessa vida,
que não, você,

não há remédio que me cure,
se não, a vida  a me bater no peito,
muito além de qualquer verso brega... 

e há de chover pela manhã,

e eu vou apenas tomar o meu café, sentada no sofá,
com um cigarro e as janelas bem abertas,

não espero mais nada além
da chuva,
um amor e esse café,

abre as janelas pra mim,
e vem deitar...

todo o resto, 
meu querido,
é ainda mais bobo do que nós dois.