domingo, 26 de agosto de 2012

“Eu amo você, Lucas. É o meu melhor amigo, sempre foi. Nunca te deixaria, só não me afaste nunca”

“Eu afasto?”

“Já tentou afastar algumas vezes…”

“Você não me amava”

“Não amava? E por que não fui embora?”

“Pra onde iria?”

“Fisicamente pra lugar nenhum. Mas poderia não ter mais falado com você, e te deixado sozinho”

“É o que todos fazem, ora”

“Mas não fiz, ora”

Dono de um sorriso puro, fechei os olhos e deitei o rosto debaixo dos seus cabelos pretos longos. Poderia ter dito que a fala também é física e que assim como tudo que é físico não influenciara em nada a minha solidão. Estávamos ali os dois. Eu talvez no mar, ela na lua. Não, ela estava bem aqui. “Meu chão firme” dizia “você parece com as corujas, eu li que são serenas assim como você”. Às vezes parecia uma menininha. “Não pareço ter 21 em nenhum aspecto” afirmava, escondendo o rosto atrás das mãos. “Vamos mentir pras pessoas que sou mais velho… esse papo de cronologia é furada”. Reparei seus olhos - caíam de sono por detrás daqueles óculos enormes e tortos. “A gente podia ir dormir e você me contaria uma história”. Respondi que sim, enquanto nos dávamos as mãos. Depois ficamos em silêncio o resto da noite, olhando pro teto.
                                                            
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amanhecemos assim, a olhar para o teto, estáticos.

as mãos já livres uma da outra,
procuravam-se ainda em silencio,
enquanto a luz suave do inicio da manhã começava a entrar pela janelas do quarto...

"tenho medo do escuro e de tempestades" ele disse, e eu ri, pensando em como parecia um menino ainda, talvez pela pouca idade... bobagem, tinha algo nele de muito juvenil e maduro, que nada tem haver com o tempo cronológico das coisas, é o  tempo dos sentidos e dos sentimentos, tem alma de poeta e vitalidade de um cantor de blues dos anos 60, uma combinação irresistível admito... "tenho medo de relacionamentos , e de dias calmos demais" pensei depois, mas do que importam os medos, é tudo tão urgente agora, o pó da estrada debaixo de nossos tênis, e  nossas mãos dadas a noite enquanto olhamos pro teto, talvez se soltem... sim; se soltarão mas continuaram a se encontrar nos mesmos versos, tão meus, e tão seus, nossos.

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"Vamos fugir, meu bem, qualquer dia. Pra praia, pra argentina, pra além da estratosfera..." 


quero,

o cheiro do sabão em pó,
da roupa limpa,
de sabonete, e banho tomado...

as roupas ao sol, estendidas no varal,

nossas vidas se fazendo,
dentro de cada detalhe,

um telescópio velho na varanda,
uma maquina de escrever na mesinha do quarto...

livros em uma prateleira baixa,

duas xícaras de café,
com desenhos de corujas,

um vinho barato na geladeira,

um cobertor bem grosso,
seus pés nos meus pés...

não, meu bem,
não quero fugir pra estratosfera...

quero só fincar meus pés  bem firmes,
nessa vida,
e em qualquer lugar onde os seus pés também estejam.

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"e apesar de todo caos, permaneceremos seremos como corujas."

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