26 de abril
eu poderia medir o tamanho da minha angústia,
pelo desfiado na meia calça
que me vai da coxa até os joelhos...
nada de alarmante,
apenas desagradável.
eu não me sinto exatamente satisfeita
nem insatisfeita com nada. e isso é um saco.
o café frio,
a cama por fazer,
os versos,
vento e tédio
que vem e fica. fico.
eu não gosto da minha cara nessas tarde de tempo frio...
eu não gosto da minha cara,
na maioria das tardes.
e tanto faz.
eu ando engolindo a seco essa vida,
e não tem vinho que aqueça,
nem cigarro que me acalme...
já fui menos fútil e menos chata... em algum ponto eu me esvai.
entre uma reticência e outra,
o que me sobra
é verso ralo de mais para pontuar.
aí...
é sábado, meu bem.
sem grandes novidades, até aqui.
- 19 de abril
eu sonhava viajar de trem,
o que mais que eu sonhei já não me importa.
o que eu sou,
já não me cabe por inteiro.
eu ando com tanto sono,
um tanto
tonta,
e com medo do relógio.
do lado de fora da porta,
tem eu,
do lado dentro,
quem sabe...
eu sonhava com o telescópio
o copo de café na mesa,
a tua cadeira e a minha...
somos portas fechadas, meu bem.
a fumaça do cigarro é sempre um pouco mais do que eu poderia respirar...
a tinta da caneta por acabar,
e eu,
talvez,
já tenha me acabado no último gole de café.
minhas dores de cabeça
são piores agora,
e
mais frequentes...
ando um tanto eu,
por de mais eu.
tenho evitado escrever.
abre aquela janela,
que eu quero saltar.
dentro,
há apenas o abismo do que sou...
ando um tanto zonza,
chata e incompreensível,
tenho me evitado, também.
bobagem...
ascendo o cigarro e fecho os olhos,
sempre ascendo o cigarro e fecho os olhos.
eu sonhava viajar de trem...
a estrada e os carros,
o ônibus,
passageiro
cobrador,
dinheiro e troco...
banalidade depois de banalidade,
me escorre
a noite,
a vida insossa,
hora desce
hora me regurgita o tédio.
por deus,
eu realmente poderia enlouquecer...
talvez, até já tenha.
o toque do telefone,
aquela música tocando,
o cachorro latindo,
a sineta da escola,
a lente riscada dos óculos...
nada que me importe enxergar.
o vermelho desbotando do meu cabelo,
a camisa amassada,
meia calça desfiando de lado...
o relógio marca a hora errada dentro de mim...
nada mais que me importe escrever.
banalidade depois de banalidade,
eu realmente poderia...
outro gole de café,
e ascendo o cigarro...
nada mais, até aqui.